Artigo originalmente publicado no Blog do Site AeroEntusiasta.
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SÉRIE ÁFRICA: O FIM DOS JUMBOS ANGOLANOS
Por mais de três décadas o Boeing 747 reinou como padrão no transporte de passageiros em voos internacionais de longa distância. O sucesso desse colosso dos ares foi tamanho que ele praticamente fez parte do cenário dos grandes aeroportos do mundo, onde era facilmente visto e admirado por sua imponência.
O desenvolvimento de motores cada vez mais potentes, mais econômicos e principalmente muito confiáveis, fez sair das pranchetas dos engenheiros projetos de jatos intercontinentais impulsionados por dois motores. O resultado é que atualmente cada vez menos pessoas viajam a bordo dos Jumbos, que lentamente estão saindo de cena, perdendo espaço para os grandes bimotores como os B777, B787, A330 e A350, entre outros.
Em uma comparação bastante simplória entre a operação de quadrimotores versus bimotores, a economia vai muito além do óbvio consumo de combustível. Uma empresa com muitos jatos intercontinentais necessita manter controle preciso de um grande estoque motores sobressalentes, peças de reposição, itens consumíveis e mão de obra técnica especializada. Quanto mais motores em um avião, naturalmente há mais chances proporcionais de panes por desgaste de componentes, falhas de materiais, consumo de fluidos (óleos), além de maior exposição ao meio externo como colisões com equipamentos de solo, em voo (bird strikes), ingestão de materiais (FOD), entre muitos outros fatores.
Algumas empresas com grandes frotas de B747, como a Japan Airlines (JAL) que foi a maior usuária do modelo com mais de 100 unidades (ou 400 motores!), trocaram todos os Jumbos por aviões bimotores. Atualmente a Boeing produz o 747-8, uma versão atualizada com motores modernos e refinamentos aerodinâmicos, mas que não deslanchou nas vendas. No ano passado foram entregues apenas 14 unidades do B747-8, sendo apenas três na versão para passageiros!
No final da década de 1990 a TAAG - Linhas Aéreas de Angola, tinha uma frota internacional bastante defasada, com alguns Boeing 707 remanescentes e um trijato Lockheed L1015 "Tristar" arrendado da TAP Air Portugal (CS-TEC). Para otimizar o movimento de passageiros e cargas, em 1997 a companhia de bandeira angolana recebeu o primeiro de dois Boeing 747-300, adquiridos de segunda mão com mais de dez anos de uso. Eles foram escolhidos por terem um diferencial importante para a companhia: eram da versão 747-300M (Misto), também chamado de Combi, ou seja, transportavam passageiros e cargas no piso superior.
O primeiro a chegar foi o D2-TEA "Cidade do Kuito" (cn 23410 | ex. Singapore 9V-SKN) em JUL/1997 e o D2-TEB (cn 23751 | ex. Swissair HB-IGG) chegou em DEZ/1999. Eles foram configurados para levar 270 passageiros em três classes (Primeira 16 / Executiva 54 / Econômica 200) e 40 toneladas de cargas distribuídas nos porões e em seis pallets acomodados na parte traseira superior, embarcados através de uma porta de carga localizada na parte traseira esquerda.
A TAAG ainda operou o D2-TEC (cn 22971), um 747-300 (full pax) arrendado por curto período entre OUT/2004 e JAN/2005, durante a manutenção dos outros dois Jumbos. Este nunca recebeu a vistosa pintura da empresa e voou totalmente branco. Em JUL/2005 ele foi enviado para Johanesburgo onde foi desmanchado três anos depois em 2008.
Operando regularmente desde Luanda para o Brasil, Europa, Ásia e alguns voos na África, os Jumbos chegaram em momento propício para auxílio a uma população que vivia um período de necessidades extremas. A segunda metade da década de 1990 foi um período complicado para a sociedade angolana, quando a guerra civil estava em seu período mais sangrento, batendo as portas da capital Luanda. A degradação da inexistente indústria local criou verdadeiros "voos da muamba", onde muita gente fazia o trabalho de "formigas". A rota Luanda-Rio de Janeiro foi muito utilizada por pequenos comerciantes, que iam e voltavam várias vezes por mês, negociando mercadorias para suprir os mercados da capital angolana e região.
Os 747 da TAAG também foram usados para fretamentos especiais, como por exemplo, em algumas operações no aeroporto de São José dos Campos/SP (SJK) em 2004, onde embarcaram equipamentos da empresa de telefonia Siemens e peças de aeronaves Embraer A-29 Super Tucano para a Força Aérea de Angola. O ex-presidente José Eduardo Santos também utilizou os 747 em missões oficiais, transformando os Jumbos em aviões presidenciais de Angola.
Pouco tempo depois de receber os primeiros bimotores 777, no final de 2006, a TAAG tratou de encostar os clássicos 747-300, os enviando para o seu destino final, o Aeroporto Internacional Jan Smuts, em Johanesburgo/África do Sul (JNB). O primeiro a sair da frota foi o D2-TEA em OUT/2010, seguido do D2-TEB transladado três meses depois em JAN/2011. Estacionados no "corrosion corner" do aeroporto JNB (cemitério), os dois 747 vermelho e laranja não tinham perspectivas de voltar a voar e aos poucos perderam as marcas da TAAG e os motores, que removidos e negociados pois tem alto valor comercial.
Finalmente a empresa sul-africana NeverGreen Aircraft Industries foi incumbida de desmontar totalmente os Jumbos, removendo componentes reutilizáveis e cortando completamente a fuselagem e estruturas para comercializar o valioso metal. A NeverGreen cortou os 747 angolanos em NOV/2016 e posteriormente divulgou em seu site e nas suas redes sociais, imagens e vídeos deste trabalho, tratando-o com um "case" de sucesso devido a complexidade e proporções dos aviões envolvidos.
Abaixo a vida operacional dos Boeing 747-300 que a TAAG - Angola Airlines utilizou entre 1997 e 2011:
BOEING 747-312(M) # D2-TEA (cn 23410)
AGO/1986 - SINGAPORE (9V-SKN)
JUL/1997 - TAAG (D2-TEA) - recebido
OUT/2010 - TAAG (D2-TEA) - estacionado (JNB)
NOV/2016 - TAAG (D2-TEA) - desmontado (JNB)
BOEING 747-357(M) # D2-TEB (cn 23751)
DEZ/1987 - SWISSAIR (HB-IGG)
DEZ/1999 - TAAG (D2-TEB)
JAN/2011 - TAAG (D2-TEB) - estacionado (JNB)
NOV/2016 - TAAG (D2-TEB) - desmontado (JNB)
BOEING 747-344 # D2-TEC (cn 22971)
ABR/1983 South African Airways (ZS-SAU)
OUT/2004 TAAG (D2-TEC) - Arrendado 3 meses
JUL/2005 TAAG (D2-TEC) - estacionado (JNB)
2008 - desmontado (JNB)
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