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Servisair
quer voar alto
Publicado a 21-06-2010 15:23:00
Quem se deslocou ao aeroporto de Cabinda, no dia 28 de Maio, decerto terá ficado surpreendido pelo estranho espectáculo que se desenrolava na pista de aterragem. O avião MD 82/80, acabado de aterrar, estava no centro das atenções.
Do lado direito do avião, um carro de apoio da Cabinda Golf Oil disparava fortes jactos de água na direcção da aeronave. Do lado esquerdo, um carro de bombeiros seguia igual procedimento. Apesar de não haver quaisquer sinais de incêndio, o “banho” prosseguiu durante largos minutos.
Em terra, dois grupos de bailarinas davam largas à sua exuberância e sensualidade ao ritmo frenético de batuques. Os homens estavam atrás a tocar instrumentos tradicionais ou a ensaiar passos coreografados de dança. Os passageiros que saíram do avião foram recebidos entusiasticamente pelas principais autoridades da província de Cabinda. Era notório o contraste nos trajes entre os responsáveis pelo governo provincial, liderados pelo governador Mawete João Baptista, todos de fato e gravata; as autoridades eclesiásticas, lideradas pelo bispo de Cabinda, Dom Filomeno Vieira Dias, empunhando as solenes batinas, e, por fim, as diversas autoridades tradicionais vestidas a rigor (alguns envergando o uniforme cor creme característico dos sobas, outros ostentando camisa branca e um vistoso chapéu de palha tradicional). Os sorrisos e os cumprimentos efusivos eram o sinal dominante entre os anfitriões e os convidados, provenientes de Luanda.
Repentinamente, o grupo dirigiu-se em bloco para junto da aeronave. Foi aí que alguns cabindenses, entre os quais se destacam alguns anciões, começaram a entoar preces no dialecto local. À medida que o iam fazendo espalhavam pelo chão da pista de aterragem, pedaços de comida, cerveja, vinho e gasosa. Paralelamente, quem liderava a estranha cerimónia mergulhava um molho de plantas num pires que continha uma mistura de várias bebidas alcoólicas (aguardente, marufo e uísque) e pincelava o chão com o líquido que estava no recipiente, o qual libertava um odor pouco convidativo.
Voo inaugural para o Lubango
Nessa altura, já ninguém tinha dúvidas. O grupo estava a assistir à bênção tradicional da aeronave, um ritual que foi imitado pelo governador provincial de Cabinda e pelo director-geral (Joaquim Vieira) e o director executivo (João Cordeiro) da Servisair, a proprietária da aeronave. A cerimónia decorreu acompanhada do som estridente do zimpungi (instrumento tradicional feito a partir do dente de elefante) que dava um ar solene ao acto que consiste, segundo esclareceu um dos sobas à EXAME, “em fazer oferendas aos antepassados de modo a apaziguar eventuais espíritos malignos”. Seguiu-se a bênção cristã e, já no interior do aeroporto, os discursos da praxe.
Apesar de toda a solenidade do momento, reforçada pelo facto de 28 de Maio ser o Dia de Cabinda, este nem sequer foi o voo inaugural da Servisair. Esse tinha ocorrido há duas semanas, no dia 12 de Maio, de Luanda para o Lubango, viagem na qual a reportagem da EXAME também esteve a bordo. Foi nessa altura que o director-
-geral, Joaquim Vieira, explicou a razão de ser da criação de uma nova companhia de aviação regular. “Somos um nova companhia que quer fortalecer o sector da aviação comercial em Angola oferecendo preços competitivos, qualidade de serviço e rigor no cumprimento de horários.”
Neste seu primeiro ano de actividade, a Servisair, companhia aérea de capitais 100% angolanos, quer actuar em dois segmentos: voos domésticos e serviço charter.
No que diz respeito ao mercado interno, a companhia quer oferecer, numa primeira fase, os voos diários de Luanda para Ondjiva (Cunene), Menongue (Kuando Kubango), Saurimo (Lunda-Sul) e Luena (Moxico), Numa segunda fase, o objectivo é “unir todo o território nacional, por ar, de Cabinda ao Cunene”, afirmou com indisfarçável orgulho o director-geral.
Frota de aviões adquirida à Alitalia
A Servisair vai operar nos voos domésticos com quatro aviões do tipo MD 82/80 com 141 lugares (22 em classe executiva e 119 em económica) ou com 164 lugares (todas em económica). No segmento dos voos charter, a companhia vai operar com duas aeronaves Boeing modelo 727-100. Os responsáveis crêem que o Mundial da África do Sul poderá ser uma excelente oportunidade para o arranque do negócio. João Cordeiro, director executivo da Servisair, acrescenta que os Camarões e o Gabão também podem ser destinos interessantes. O mesmo responsável esclareceu que os aviões foram comprados à companhia italiana Alitalia, num contrato alargado que também incluiu a formação de pilotos e a assistência técnica. A manutenção, por sua vez, é feita numa empresa especializada na África do Sul. “Um avião MD 82, com tudo incluído, pode custar à volta de 5 milhões de dólares”, esclarece.
Só existem dois tipos de tarifas
Registe-se ainda, a título de curiosidade, que os aparelhos ficam “parqueados” nas províncias de onde partem para Luanda. A título de exemplo, os voos diários que partem do Lubango às 7 horas só regressam de Luanda às 16. Além da diversidade das rotas, a Servisair apostou em apenas dois tipos de tarifas. As rotas mais curtas, como, por exemplo, a de Luanda a Cabinda, vão custar 8500 kwanzas em classe económica e 10 mil em classe executiva. Enquanto as rotas mais longas, caso de Luanda ao Lubango, têm o preço de 11 mil kwanzas em económica e 18 mil em executiva.
Jorge Portugal, director comercial da Servisair, acrescenta que a companhia oferece duas vantagens adicionais aos clientes: “O bilhete funciona como o cartão de embarque. Logo, se o cliente não conseguir viajar, poderá utilizar o mesmo bilhete, para outro voo da Servisair, sem custos adicionais. Outra boa notícia é que os passageiros estão autorizados a transportar gratuitamente uma bagagem pessoal até 30 quilos.”
Identidade corporativa da Publivision
De referir que a marca Servisair, cuja identidade corporativa foi criada pela agência angolana Publivision e que assenta no slogan “Voamos Consigo”, vai ser comunicada através de uma campanha de publicidade que inclui anúncios de televisão e imprensa e spots de rádio. O investimento total, segundo adiantou João Cordeiro, está orçado em cerca de 70 mil dólares. Mas, segundo o director executivo, o grande investimento da Servisair foi a formação da equipa de pilotos e técnicos. “Estamos há mais de um ano a recrutar e a formar quadros. Do investimento inicial da Servisair cerca de 30% são relativos à formação. Nós queremos fazer a diferença. Para isso temos de atrair e treinar os melhores e pagar-lhes salários iguais ou acima do mercado”, afirmou João Cordeiro. O director executivo sabe do que fala, dado que foi um antigo piloto e comandante de aviões.
O director-geral, Joaquim Vieira, teve um percurso diferente. “Estou neste projecto há um ano e meio. Antes tinha trabalhado 35 anos na TAAG. Primeiro, como delegado em Portugal. Depois, a partir de 1988, em Angola, onde cheguei à administração”, recorda. Para já Joaquim Vieira concorda que a aposta da empresa deverá concentrar-se na formação de modo a cumprir os objectivos do rigor nos horários e na qualidade do serviço. No futuro, não desdenha a hipótese da oferta de voos regulares para o estrangeiro. Decididamente a Servisair quer voar alto.
Por: Jaime Fidalgo
SERVISAIR quer voar alto - 21/06/2010
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