NA ESTRADA LUANDA-BENGUELA
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(Por Siona Casimiro - www.apostolado.info / 2005)
O tráfego continua escasso na via Luanda-Benguela, que liga as maiores metrópoles económicas de Angola.
A sensação invade a mente de quem, como eu, esperava mais azáfama neste espaço, volvidos três anos de tranquilidade.
Durante três km, amiúde o nosso veículo nem cruzava outro em sentido inverso, realidade notada em 2004.
Voltei na via com o padre António Jaka (tal como no ano passado) para participar na segunda conferência anual dos correspondentes de Rádio Ecclesia. Desde que pulou para topo da Congregação do Verbo Divino (Verbitas), dispersa pelos quatro pontos cardeais de Angola, o padre Jaka tonou-se um profissional das maratonas pelo sertão do país.
CANDONGUEIROS, CAMIÕES DE CARGA
Em termos de tipos de veículos cruzados no nosso itinerário, os “Hiace” de candongueiros e camiões de carga são os que mais rasgam a via.
Seguem-nos, doravante, motorizadas, singularmente no troço que atravessa a província de Kuanza-Sul.
Por essas paragens, as motos eclipsaram bastante as bicicletas, num aparente progresso social. Aparente ... visto a dificuldade de atribuir o dado ao desenvolvimento económico, este, claramente ausente.
O estado físico da estrada evidencia, aliás, a estagnação, senão a regressão em muitos lugares.
Os seus 600 e tal km combinam presentemente o asfalto razoável, o altamente danificado, terra batida e sinais de tapa buraco rudimentar numa boa distância.
O término do troço Sumbe-Canjala é a parte mais acidentada, impondo aos condutores a prova de regularem a velocidade a 20 km/hora.
A paisagem, apesar do cacimbo e feno seco por todos os lados, mantém muitos motivos de encanto no horizonte : a planície verdejante à saída de Porto Amboim; rios serpenteando morros e cerrada vegetação na sua busca do rumo vagaroso para o mar como na Canjala; imponentes penhascos que majestoso guardas serenos da via e dos transeuntes .... Em suma, um ambiente fascinante apesar do atraso do génio humano lhe disciplinar e acentuar a estética.
PEQUENAS NOVIDADES
Um atraso, mas não a falta de pequenas novidades, ao exemplo do moderno complexo de bomba de gasolina construído à saída de Sumbe.
O complexo reproduz o padrão erguido nas portas de Luanda-Sul, integrando, também, loja e restaurante moderno extremamente úteis aos passageiros.
A unidade prevista em Canjala não acabou, mas parece em fase quase final.
Novidade, ainda, são os gigantescos mastros de antenas que as companhias operadores de telefone estão a implantar.
O seu perfil cónico e as suas cores laranja e branca irromperam no panorama de muitos cantos ao longo da estrada.
CARTA DE CONDUÇÃO E TRIÂNGULO
Em contrapartida, irrompeu, também, a chaga da corrupção através dos agentes da polícia de trânsito.
Uma cena anedótica ilustrou-o a escassos km depois de Canjala.
Fomos interceptados e, imagine a surpresa do pedido que o valente polícia nos formulou : «dirigentes, faz favor facultar-me a carta de condução e o triângulo». Perante a nossa admiração de ele não ter mencionado o livrete do veículo, mas, sim, o triângulo, acrescentou : «dirigentes, vocês sabem que roubam muito os triângulos no porto (de Lobito) e temos que estar vigilantes».
A réplica fez-nos rir ao longo do resto da caminhada, o meu companheiro, recordando similar peripécia caricata, vivida na vizinha República Democrática do Congo (RDC). Ali, o agente chegou a solicitar-lhe a apresentação da ... carta do baptismo! Artimanha só para, ao fim e a cabo, obter a famosa gasosa como chamamos, por cá, à instituição oficiosa da corrupção.
TURISMO: estrada Luanda - Benguela
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