O Globo
O vácuo deixado pela Varig
Publicada em 26/07/2007 às 16h40m
Por Maria Lucia Americo dos Reis
Há muitas situações inexplicáveis na crise aérea brasileira. Uma delas diz respeito ao avião da Gol que colidiu com o Legacy. Houve uma tendência acentuada em responsabilizar a tripulação do Legacy pela colisão, acusando-a de voar acima do nível autorizado e de haver desligado o transponder que indicaria a aproximação de outra aeronave.
Achei estranho que ninguém se preocupou em averiguar, se a aeronave da Gol estava com o transponder ligado. Meu falecido pai, que era piloto, costumava dizer que as modernas aeronaves, tais como o Boeing possuem equipamento de radar capaz de detectar a proximidade de outras aeronaves. Era de se esperar que a tripulação do avião da Gol, operando um aparelho muito maior do que o Legacy, fizesse uso do transponder, ou de equipamento de radar, ou será que, por medida de economia, os aviões da Gol voam sem esses equipamentos?
A pergunta é cabível, se levarmos em conta que os donos da Gol se vangloriam de oferecer serviços aéreos de baixo custo e de baixo preço. Esse baixo custo é conseguido, segundo a imprensa especializada informa, encurtando a permanência das aeronaves no solo, cortando as despesas com pessoal, economizando no conforto dos passageiros e, talvez, minimizando os gastos com a manutenção. Para a Gol, essa política se chama popularizar o transporte aéreo, como se operar aviões fosse tão simples quanto dirigir um ônibus.
Outra situação inexplicável decorre do sequenciamento de fatos e circunstâncias que contribuiu, favoravelmente, para que a Gol adquirisse senão todos os ativos da Varig, considerável parte deles. O BNDES que estava se preparando para reunir recursos a fim de salvar a Varig da falência, de repente interrompeu esse processo. Enquanto isso, a Secretaria de Previdência Complementar fulminou o fundo de pensão dos funcionários da Varig. Não podemos esquecer que grande parte dos funcionários da Varig estava se movimentando financeiramente para arregimentar recursos, a fim de adquirir a empresa e salvá-la da débâcle. Com a investida contra o seu fundo de pensão, é bem possível que tenham ficado sem condições de ajudar a empresa pela qual lutavam.
Além do mais, conforme foi apontado pelo economista Carlos Lessa, que já foi presidente do BNDES, o Ministério da Fazenda, à época comandado por Antonio Palocci, se recusou a contribuir para o saneamento do passivo fiscal da Varig, sob a alegação de que a função do governo não era a de ajudar empresas deficitárias. Sim, de fato, não é, embora o governo tenha sido pródigo na concessão de isenções da COFINS para empresas aéreas internacionais e mais pródigo ainda, na concessão de isenções do imposto de renda, para investidores estrangeiros, enquanto que os brasileiros pagam o tributo que seria devido pelos cidadãos lá de fora.
Se nos detivermos na análise desses acontecimentos, veremos que parecem demonstrar que a crise aérea não se iniciou com a queda do avião da Gol, mas sim com a destruição premeditada de uma empresa que, durante vários anos, encheu o Brasil de orgulho. A Varig pensava, em primeiro lugar, na segurança do vôo e, em segundo lugar, no bem-estar do passageiro. O vácuo deixado pela Varig tão cedo não será preenchido. Será necessário uma nova Varig, movida por indivíduos com horizontes amplos e preocupação com o passageiro, para que os céus do Brasil se tornem novamente seguros.
O vácuo deixado pela Varig
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Re: O vácuo deixado pela Varig
Vixi, Boeing com radar pra detectar outra acft???Frg_DF escreveu:Achei estranho que ninguém se preocupou em averiguar, se a aeronave da Gol estava com o transponder ligado. Meu falecido pai, que era piloto, costumava dizer que as modernas aeronaves, tais como o Boeing possuem equipamento de radar capaz de detectar a proximidade de outras aeronaves. Era de se esperar que a tripulação do avião da Gol, operando um aparelho muito maior do que o Legacy, fizesse uso do transponder, ou de equipamento de radar, ou será que, por medida de economia, os aviões da Gol voam sem esses equipamentos?
Essa doeu no rim!!!!!

O tal radar talvez, seria o TCAS. Mas como o Legacy estava com o transponder desligado, o avião da Gol não teve condições de perceber sua aproximação. O TCAS funciona conjugado com o transponder, se desliga um, o outro também já era.
Um abraço do gordo!!!!
osmaircassio@hotmail.com
"A educação de um povo se avalia pelo modo como se tratam os animais."
Alexander Von Humboldt
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