O teto estava a cerca de 1 000 ft, espesso e cinza, cerrado, sem nenhuma abertura.
Lá pelas 08:45 o serviço da TAAG anunciou que o vôo atrasaria devido às condições meteorológicas
A aeronave era uma Fokker F.27-200 Friendship, um avião robusto e com boa potencia, estacionado no pátio, ligado à APU, co-piloto a bordo, farol rotativo, tudo pronto a decolar, esperando só abrir um buraquinho nas nuvens.
Havia ventos no interior das nuvens que poderiam assustar ou mesmo sobrecarregar a estrutura do avião e o melhor era esperar
Um senhor de barba comprida, braços cruzados, esperava no interior da sala de embarque, olhos postos no céu. Caía uma chuvinha fina lá fora.
Saíu uns instantes, conversou com alguem da sala AIS (informações de vôo) e voltou, sorridente, dirigindo-se a nós, cerca de 50 pax, dizendo que o embarque se daria naquele instante, o mais rápido possivel.
Um buraco suficiente para o F.27 passar havia-se aberto nas nuvens, mas poderia fechar a qualquer instante.
Mal me abaixei para pegar o "bag" e já o co-piloto acomodado no F.27 acionava o motor numero 01.
Como era curta a distancia embarcámos rapidamente, portas trancadas, e o copiloto começa uma corrida para o final da pista (não tinha taxyway).
Volta rápida de 180 graus no comecinho, acelera a fundo e lá vamos nós em desabalada correria pela pista abaixo. Rotação com a velocidade mínima, proa paralela ao chão para ganhar velocidade e manche para trás até o limite máximo de razão de subida do F.27.
Logo a seguir, posicionou o avião sob o buraco e fomos subindo em espiral até ele. Quando alcancamos as nuvens é que vimos: espessas, vento forte e logo a seguir... um sol maravilhoso, como se nunca houvesse sombra na Terra
Aproveitei o parafuso de subida do F.27 para ver o Toyota verde do meu pai pela ultima vez, ao longe, na estrada do Aeroporto, cada vez menor. A guerra estava às portas da cidade e no mes seguinte ele partiria para a capital, Luanda.
Fazia muito frio.
Abraços.
Cherokee.