Porto Alegre, 30 de julho de 1950.
Passadas 48 horas da maior tragédia da aviação no Rio Grande do Sul, a queda do Constellation da Panair, autoridades, jornalistas e populares ainda vasculham o Morro do Chapéu, em São Leopoldo (hoje Sapucaia do Sul), na busca dos vestígios e restos do possante quadrimotor calcinado.
A frente fria estacionária, que foi decisiva no acidente da Panair na capital do Estado, ainda está atuando, matendo uma baixa camada de nuvens cobrindo completamente todo o território gaúcho.
O Senador Joaquim Pedro Salgado Filho, ex-ministro da Aeronáutica ainda estava sob o impacto da tragédia do Panair, principalmente porque ele tinha lugar marcado no voo PB 099, mas cedeu a um amigo que tinha pressa em chegar ao Rio Grande do Sul.
Sorte de um, azar de outro.
Mesmo com o tempo desvavorável, o Senador Salgado Filho mantivera sua agenda no interior do estado. Tinha um encontro com o Sr. Getúlio Vargas na longínqua cidade de São Borja, onde o ex-presidente residia na Fazenda do Itu.
O deslocamento seria em um bimotor Lodestar da SAVAG (Sociedade Anônima Viação Aérea Gaúcha), prefixo PP-SAA batizado de "São Pedro do Rio Grande". O piloto não seria ninguém menos que o proprietário da SAVAG, o Sr. Gustavo Cramer (ex-comandante da Panair).
A SAVAG foi fundada em 1946, e possuia uma frota de dois Lockheed Lodestar (PP-SAA e SAB), que voavam para diversas cidades gaúchas, buscando enfrentamento com a poderosa VARIG. Em 1949 a companhia perdera o Lodestar PP-SAC em acidente na cidade de Pelotas/RS.
Conforme Silva (2006) o Comandante Cramer estava ciente das condições meteorológicas desfavoráveis, e mesmo assim apresentou um plano de voo IFR em rota direta para São Borja, a 4.500 pés de altitude. O plano de voo previa descida por instrumentos, tendo como referência a Radio Difursora de São Borja (AM). Este procedimento atualmente é proibido, porém nos tempos do "arco-e-fleca" da aviação (anos 40 e 50), era muito comum usar rádios comerciais (broadcasting) como balizador de procedimentos, devido a ausência de rádio-auxílios a navegação aérea.
O PP-SAA decolou do Aeroporto Federal de Porto Alegre, São João, as 11 horas com 10 pessoas a bordo. O voo prosseguiu por mais de uma hora dentro de um colchão de nuvens, sem contato visual com o terreno. O Comandante Cramer solicitou ao Centro de Controle, descer para consições VFR (visuais), o que foi negado pelo controlador (Silva, 2006).
Não querendo frustar o Senador Salgado Filho por não conseguir localizar a Fazenda Itu, provavelmente o experiente Comandante Cramer decidiu por conta e risco descer em busca de contato visual com o terreno.
Por volta das 13 horas, um morador da região rural de São Francisco de Assis ouviu o ronco de um avião passando baixo sobre sua fazenda, seguido de uma forte explosão. Era o PP-SAA que voava muito baixo e bateu contra uma pequena elevação chamada Cerro Cortelini. Nenhum dos dez ocupantes do bimotor sobreviveu.
Era o fim de uma carreira de sucesso na aviação e de um provável Governador do Rio Grande do Sul, tendo em vista que o encontro de Salgado Filho com Getúlio Vargasm visava os detalhes para a candidatura do senador ao governo do estado.
O relatório final do acidente informou que o Lodestar da SAVAG voava nivelado, motores operando normalmente, na direção magnética 310 graus, flaps e trens recolhidos. Devido a visibilidade reduzida por chuva fina e nebulosidade baixa, o comandante Cramer não pode pressentir o choque contra uma árvore, que decepou a asa esquerda do bimotore levou a queda do avião.
Hoje, passados 61 anos desta tragédia, Gustavo Cramer e Salgado Filho são lembrados como nomes dos aeroportos de Bagé/RS e Porto Alegre/RS, respectivamente.
Fontes pesquisa:
* Livros:
- O rastro da bruxa – história da aviação brasileira no século XX através de seus acidentes: 1928-1996. Comandante Carlos Germano da Silva, EDIPUCRS. Porto Alegre/RS. 2006.
- Acidente no Morro do Chapéu - A queda do Constellation da Panair em Sapucaia do Sul. Abrão Aspis, Livraria Palmarica. Gravatal/SC. 2007
* Foto: autoria desconhecida.


