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JAIME PINTO:
Capitão de Boeing 747 na companhia Tower Air
Entrevista de António Oliveira
Jaime Pinto nasceu na cidade de Malange, Angola, filho de José Teles Pinto e Beatriz Augusto. O pai fora destacado na então província portuguesa para cumprir o serviço militar, acabando por conhecer Beatriz, também filha de portugueses, com quem casou, decidindo ficar em Angola. Eram fazendeiros e comerciantes. Jaime Pinto cresceu em Malange, onde completou o sétimo ano do liceu, mas depois muda-se para Sá da Bandeira (Tchivinguiro) onde se licenciou em Engenheiro Agrário. Desde muito cedo que voar era uma das suas grandes paixões. Aprendeu a pilotar ainda muito jovem, apenas com 16 anos, acabando por ingressar na Força Aérea Voluntária para dar corpo ao seu sonho. O 25 de Abril de 1974 apanhou-o em Angola apenas com 22 anos mas já com muita experiência de voo. Decidindo ficar no novo país, e depois de uma passagem pelos Transportes Aéreos Angolanos, acaba por vir parar à América por questões familiares. Aqui foi um dos fundadores da empresa aérea Spirit e hoje trabalha para a Tower Air como capitão do super-avião Boieng 747.
Mundo Português — Qual foi o seu primeiro trabalho em Angola?
Jaime Pinto — O meu primeiro trabalho foi como professor do chamado "ciclo preparatório". Quando acabei o meu curso de Engenheiro Agrário não tive colocação para estagiar. De Portugal iam Engenheiros estagiar para Angola a fim de obter experiência em plantas tropicais (algodão, tabaco etc). E nós, angolanos, tínhamos dificuldade de estagiar. Não podíamos ir para Portugal, mas os de Portugal iam para Angola. Afinal, aquilo que o governo português fazia sempre: tratar os Portugueses de Angola como segunda classe.
MP — Onde tirou o curso de piloto?
JP — Comecei as minhas primeiras horas e voo no Aero-Clube de Malanje quando tinha 16 anos. O Sr. Leonel Gomes Pinto foi o meu primeiro Instrutor. Com o dinheiro da minha mãe e família materna (os meus pais eram divorciados e o meu pai não contribuiu para a minha educação), fui fazendo horas de voo, fui instructor e mais tarde ingressei na Forca Aérea Voluntária, aonde adquiri experiência necessária para ser Piloto Comercial. Fui Piloto Comercial antes de ser formado em Engenharia, pois fazia as duas coisas ao mesmo tempo. Quase que desisti do Curso de Engenharia, mas a pedido da minha mãe, acabei-o.
MP — Naturalmente foi um curso que envolveu muito trabalho. É difícil ser piloto?
JP — Pilotagem e um curso muito caro. Por isso, precisa de muita dedicação e vontade de vencer. A experiência necessária para ser "realmente" um piloto de carreira custa muito a adquirir. O ideal é ter ajuda da Força Aérea.
Voar: um sonho de menino
MP — Voar sempre foi o seu sonho?
JP — Sim, sempre sonhei ser piloto. Gostava de aviões, mesmo só de vê-los passar.
MP — Quando é que descobriu que era isso que queria fazer na sua vida?
JP — Desde os meus primeiros anos de adolescência. Como disse, comecei as primeiras lições com 16 anos e obti o meu "brevet" quando completei os 17 anos.
MP — Sei que ficou em Angola depois de 25 de Abril e trabalhou nas Linhas Aéreas Angolanas, as TAAG. Como foi essa experiência?
JP — Sim, eu fiquei em Angola depois da independência. O objectivo era tentar manter os bens da minha família, mas claro, não consegui. Tive que me empregar e foi a TAAG que me deu emprego. Foi na TAAG que adquiri o balanço final para a minha vida profissional. Lá encontrei muitos bons mestres (comandante Rui Martins, Praça, Machado Jorge, Casanova, Sampaio, etc) que de mim fizeram um piloto de linha aérea. Eu fui Comandante de B-707 para as TAAG a voar internacionalmente por alguns anos. Apesar das dificuldades que Angola atravessava, gostei imenso. Tenho muitas saudades.
Velho para entrar na TAP
MP — Depois das TAAG chegou a concorrer a um lugar na TAP, mas não entrou. Porquê?
JP — Sim concorri para a TAP quando tinha 26 anos e com experiência de voo. Não entrei porque não tinha "cunhas", essa foi a razão. Contudo, tenho a impressão que a TAP não empregava pilotos nascidos no Ultramar, se o fez, foi muito poucos. Nos estávamos a quilómetros de distância em África e os pedidos teriam que ser feitos em Lisboa. Claro que não conhecíamos ninguém. Quando saí de Angola directamente para os EUA tinha 31 anos e muito mais experiência. Procurei, outra vez emprego na TAP. Na altura, a administração da TAP tinha imposto a idade máxima de admissão 30 anos. E isto porquê? Para não ter candidatos, abrir um concurso de "ab-initios" (não pilotos), admitir os filhos dos senhores comandantes, etc., da TAP, e ensiná-los a ser pilotos do "zero". Também, na altura, havia a companhia subsidiada da TAP, Air Atlantis. Através do Sindicato de Pilotos Portugueses (gerido por pilotos TAP) mais uma vez, os empregos foram bloqueados pelos próprios pilotos da TAP. Um monopólio autêntico.
MP — Gostava de trabalhar na TAP?
JP — Gostaria, se tivesse ficado a residir em Portugal. Penso que os pilotos da TAP têm o melhor emprego que se pode obter em Portugal. Ordenado, benefícios, etc... estamos a falar de Portugal, claro.
MP — Acha que esta companhia, como funciona neste momento, tem futuro face à crescente concorrência mundial neste sector?
JP — Não conheço muito da TAP. Não viajo na TAP e o que sei são rumores. Oiço dizer que não é uma companhia lucrativa e que terá de ser integrada com outra companhia europeia. Não tenho dados para avaliar. Isto é o que oiço. A verdade e que, se fosse uma companhia americana talvez já tivesse deixado de existir. Esta é a minha opinião, claro.
Oportunidades
MP — Portanto, nunca chegou a fixar residência em Portugal?
JP —Não, de Angola vim directamente para os Estados Unidos. No entanto, toda a minha família vive em Portugal, por isso passo por lá muitas vezes.
MP — E como é que veio parar aos Estados Unidos?
JP — Portugal nunca me deu nenhuma oportunidade de emprego ou mesmo de sobrevivência. Tive oportunidade de vir para os Estados Unidos e foi a melhor coisa que fiz. Aqui não há discriminação de idade e é um país que dá oportunidade seja a quem for, pela competência, e não pelos pedidos. Como já disse, eu sou angolano e os pedidos de emprego teriam que ser feitos em Lisboa.
MP — Em que empresas trabalhou antes de ingressar na Tower Air?
JP — Este país deu-me oportunidades que a chamada "mãe pátria" não me deu. Só tive que as aproveitar. Quando cheguei de Angola, foi difícil arranjar emprego imediatamente. O meu primeiro trabalho foi a voar aviões ligeiros e a transportar cheques para o bancos. Depois de eu ter provado que era competente a voar nos Estados Unidos, os empregos apareceram. Desde então sempre fui Comandante de três companhias (médias) aéreas. Fui piloto-chefe e fundador de uma companhia chamada "SPIRIT", que tem tido sucesso. Com eles trabalhei 6 anos, antes de ingressar na Tower Air. Adoro a Spirit Airlines, é como se fosse a "minha filha", e hoje arrependo-me de ter saído.
O Kosovo e Timor-Leste
MP — Qual é a sua posição na Tower Air e que carreiras faz?
JP — Na Tower Air eu sou Comandante de Boeing 747. Nos voamos de Nova York-JFK para Los Angeles, Ft. Lauderdale, Miami, San Juan, San Domingo, Atenas (Grécia), Telaviv (Israel) e Paris, como linhas regulares. Contudo, nós voamos muitos charters para o Departamento da Defesa dos EUA, ONU e Aviões de Carga. Por isso, em 18 dias de trabalho posso visitar três ou quatro continentes. Tudo depende, mas como voamos para a Defesa e para a ONU, voamos para sítios onde nunca pensei estar: Katamandu (Nepal), Kosovo, Timor-Leste, etc. Fui o Comandante do primeiro avião que foi ao Kosovo buscar refugiados para os Estados Unidos. Fui Comandante dos primeiros "cargo" a levar mantimentos para Timor-Leste. Enfim, sítios diferentes e alguns cheios de "excitment".
MP — Quantos dias trabalha, normalmente?
JP — Normalmente trabalho 18 dias por mês. Claro que não são 18 dias a voar devido ao tempo de descanso obrigatório pela FAA. Faço uma viagem e normalmente, estou 24 horas a descansar, e as vezes mais. Se voarmos para Telaviv (12 horas de voo), ficamos lá 48 horas. Temos sempre tempo de recuperar antes de iniciarmos outra viagem.
MP — Que diferenças são mais evidentes entre trabalhar para esta grande companhia e as outras por onde passou?
B747: 518 pessoas a bordo
JP — O tipo de avião — o Boeing 747 — e o tipo de voos que fazemos. Internacionalmente, por terras em que o "support" aéreo e quase "zero", com diversidade de terreno (montanhas, etc), tempos (alguns maus) e as vezes em sítios de guerra. Muitas vezes temos que pôr um "monstro" (o B747) em pistas de 1800 metros... E mesmo excitante.
MP — Qual é a sensação de ser responsável por um grande avião e pela vida de centenas de pessoas?
JP — O avião que voo leva 518 pessoas, incluindo a tripulação, e pode pesar 450 toneladas à descolagem. Eu, durante a minha carreira, tenho sido sempre comandante de avião, e penso que não importa se tenho 518 pessoas ou 2 pessoas, tenho que fazer tudo com cabeça fria, porque eu também vou lá dentro.
MP — Voar, hoje em dia, é, como se diz, a forma mais segura de transporte? Não acha que a forte concorrência entre empresas aéreas pode descurar a segurança dos aviões e dos passageiros?
JP — Não, será sempre seguro viajar de avião, embora acho que estamos a ir muito longe ao "cortar" os custos de operação. Por exemplo, acho que o oceano deve ser cruzado num avião com, pelo menos, 3 motores. Hoje, muitos bimotores (2 motores) atravessam o oceano. Acho que os aviões modernos estão a ir muito longe com a computarização. Os pilotos perdem muito tempo a tentar programar o computador ou enganá-lo se houver uma emergência. Contudo, isto é a minha opinião. Os aviões demonstraram ser seguros antes de serem admitidos no transporte aéreo.
MP — Como piloto, já passou por situações de perigo evidente, temendo pela sua vida?
JP — Claro que sim, às vezes vemos luzes de aviso na cabina que nunca gostaríamos de ver. Isto são os ossos do oficio e que só a experiência nos faz ser melhores. Por isso é que na aviação a experiência é muito importante.
MP — A descolonização portuguesa em África afectou muito a sua vida?
JP — Claro que sim. No entanto dou graças a Deus que era novo e que tive oportunidade de vir para os Estados Unidos. Como lhe disse, Portugal fez uma descolonização cobarde, não soube proteger os portugueses e os seus bens no Ultramar. Soube ir lá explorar o petróleo, diamantes, etc... mas depois abandonou-os; mais, escorraçou-os. Indivíduos como Mario Soares e outros deveriam ser chamados à justiça pelos acordos que fizeram. Eles nunca viveram em África, como poderiam fazer acordos? Foi algum português nascido em Angola incluído nos acordos? Foi uma vergonha e uma decepção para aqueles que lutaram para descobrir e manter as Áfricas.
Portugal: a "mãe" ingrata
MP — É, portanto, bastante crítico em relação a Portugal?
JP — Continuo a amar África. Portugal nunca me deu nada, pelo contrário, tirou. Jurei e sempre tive a Bandeira Portuguesa como mãe, até ao ponto em que ela me traíu. Portugal foi uma Mãe muito ingrata. Nem justa soube ser, para mim, a minha família e para muitos portugueses de Angola e Ultramar.
MP — E o Portugal de hoje?
JP — Continua a haver discriminação, como o limite de idade para acesso a empregos. É um dos poucos países que eu conheço em que a idade e discriminatória. Recomendo que os portugueses escrevam ao governo e mesmo a senadores americanos, denunciando esta lei. Todos temos direito de viver...
Uma companhia aérea portuguesa nos EU
MP — Planos para o futuro?
JP — Pedir a Deus que a Tower Air se mantenha no ar e eu tenha saúde para ser piloto. Estou a voar o maior avião de transportes, que é também muito seguro. Tenho um ordenado decente. Por isso, por lá devo ficar, embora as vezes cansado de viajar internacionalmente. Já fui convidado a ser piloto-chefe e se isso se proporcionar, melhor. Gostaria imenso de fundar uma companhia aérea "Portuguesa" nos Estados Unidos para voar para Portugal e Açores, mas precisaria de alguém que quisesse tomar conta do financiamento. Eu só sei de técnica e certificação. Se cada português nos Estados Unidos desse um dólar, poderíamos ter uma companhia aérea. Sonhos.[/b][/i]
piloto angolano que voa nos estados unidos
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piloto angolano que voa nos estados unidos
bém,antes de mais nada,gostaria imenso de parabenlizar este maravilhoso,grupo de avia
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Re: piloto angolano que voa nos estados unidos
Pessoal a grande novidade deste comandate angolano e que ja encontra-se a voar ca em angola,esta neste momento na TAAG,com o doctor pimentel e o cargo que ele ocupa e de chefe de sequecao e formacao da TAAG e comandante do BOING 747,epa comante parabens,serve-te de exemplo para muitos angolanos que estao fora e nao querem voltar,angola pais de oportunidade principalmente na aviacao que e um sector que esta a crescer muito,mais uma vez,parabens comandante
bém,antes de mais nada,gostaria imenso de parabenlizar este maravilhoso,grupo de avia
Re: piloto angolano que voa nos estados unidos
Sem o querer ofender caro Brunaide, esta entrevista já deve ter pelo menos 5 à 10 anos, já a lí há cerca de 5 anos, ou talvez não seja a mesma pelo que me desculpo.de qualquer forma, ela deve ter sempre uma mensagem a transmitir. abraços.
Sérgio Agostinho
Re: piloto angolano que voa nos estados unidos
A entrevista tem quase 10 anos. Foi publicada em novembro de 1999.
Tambem a tinha lido uns anos atras...por acaso e muito positiva.
http://www.mundoportugues.com/edicoes/1 ... _pinto.htm
Tambem a tinha lido uns anos atras...por acaso e muito positiva.
http://www.mundoportugues.com/edicoes/1 ... _pinto.htm
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Re: piloto angolano que voa nos estados unidos
Naturalmente eu sei que e antiga mais,o meu objetivo era so fazer lembrar neste grupo que o comandante jaime pinto regresou,e para servir de exemplo de muitos angolanos formados e nao querem voltar era so isso que eu queria lembrar.
obrigado
obrigado
bém,antes de mais nada,gostaria imenso de parabenlizar este maravilhoso,grupo de avia
Re: piloto angolano que voa nos estados unidos
Compreendemos muito bem a tua msn caro Brunaide.um abraço, valeu.man brunaide da silva escreveu:Naturalmente eu sei que e antiga mais,o meu objetivo era so fazer lembrar neste grupo que o comandante jaime pinto regresou,e para servir de exemplo de muitos angolanos formados e nao querem voltar era so isso que eu queria lembrar.
obrigado
Sérgio Agostinho