(Fonte: JORNAL DE ANGOLA)
Tragédia Acidente faz pelo menos seis mortos e 25 feridos
Um Boeing 737 da companhia aérea angolana TAAG, ido de Luanda com destino a Mbanza Congo, despenhou-se a meio da tarde de ontem no aeroporto desta cidade causando a morte de seis ocupantes e de duas pessoas em terra. O acidente provocou igualmente o ferimento de 30 passageiros, 25 dos quais em estado grave. O despenhamento do avião, que levava 78 pessoas a bordo, causou também a destruição de duas residências, numa das quais se encontrava um dos sinistrados.
Tragédia aérea em Mbanza Congo
João Mavinga e César André
em Mbanza Congo
O acidente registou-se quando, ao aterrar, o avião embateu contra lombas de terra batida situadas a escassos metros do início da pista. O impacto destruiu o trem de aterragem. Na sequência do choque, a aeronave, cuja tripulação era chefiada pelo comandante Sá Morais, dividiu-se em duas partes, ficando a frontal separada do resto da fuselagem.
Destroços atingiram duas residências e uma viatura, provocando a morte do condutor.
Bombeiros destacados no aeroporto intervieram de imediato, evitando uma possível explosão.
Além do comandante, o boeing tinha mais seis tripulantes. Um deles ficou gravemente ferido.Entre as seis vítimas mortais destaca-se o administrador municipal de Mbanza Congo, Manuel Cristóvão, e o padre Judanelo, da congregação Católica de Nfumu.
A maior parte dos passageiros saiu ileso. Os 25 feridos graves recebem assistência no Hospital Central de Mbanza Congo.
O Ministério dos Transportes anunciou ontem em Luanda que foi já criada uma comissão de inquérito para se apurar as causas que estiveram na origem do acidente.
O vice-ministro dos Transportes para a Aviação Civil, Helder Preza, Helder Preza anunciou o facto depois de ter desembarcado no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, proveniente de Mbanza Congo, onde visitou o local juntamente com uma comissão de emergência composta por médicos, altos funcionários da TAAG e da Empresa Nacional de Navegação Aérea (ENANA).
Questionado se a pista de Mbanza Congo está em condições de receber aviões de grande porte, Helder Preza disse que não estava em condições de afirmar se a causa do acidente terá sido as condições da pista.
Instado se a TAAG iria interromper os voos para a referida província, Helder Preza respondeu que é prematuro avançar qualquer medida, “a não ser que se prove que efectivamente aquela pista não está em condições, o que não me parece que seja a situação”.
Convidado a comentar se aquilo que constatou no terreno era um erro humano ou falha técnica, o vice-ministro dos Transportes para a Aviação Civil explicou que é sempre difícil adiantar razões para as causas do acidente.
“Penso que neste momento, no calor da emoção, não é conveniente fazer julgamento de valores sobre as eventuais causas. Vamos deixar os peritos trabalharem. Acredito que eles revelarão as razões do acidente”, disse Helder Preza.
O ministro dos Transportes, André Luís Brandão, disse estar ainda a aguardar pelos resultados do inquérito para fazer um pronunciamento público mais consistente.
O avião, a matrícula TBP-D2, fez uma escala na cidade do Negage antes de rumar para a capital do Zaire.
A ENANA declarou que o aeroporto da cidade de Mbanza Congo nunca tinha antes registado qualquer acidente aéreo.
Características do 737
O Boeing 737 é o mais popular avião comercial de passageiros de fuselagem estreita (narrow-body) para médio-alcance no mundo. Com 6.160 pedidos e 5.009 unidades entregues, esta é a aeronave com o maior número de pedidos e também de maior número de unidades de transporte de passageiros já produzida em todos os tempos.
O avião tem sido produzido continuamente em todas as suas versões evolutivas pela Boeing desde 1967. O 737. Tem sido tão amplamente utilizado, que, a qualquer momento, há mais de 1.250 deles em voo pelo mundo. Em médial, um 737 decola ou pousa a cada cinco segundos!
Acidentes recentes
5 de Maio de 2007 - Kenya Airways, voo KQ507, um 737-800 despenhou-se com 115 pessoas a bordo, depois de descolar do aeroporto de Douala, Camarões, com destino a Nairóbi, Quénia. [1]
3 de Janeiro de 2004 - Flash Airlines, Vôo 604, um 737-300 caiu pouco após a decolagem de Sharm el-Sheikh, Egipto, matando todos os 148 passageiros e tripulantes. [2]
3 de Fevereiro de 2005 - Kam Air, Vôo 904, um 737-200 em bateu contra uma montanha a 30 km a Leste de Kabul, Afeganistão matando todos os 96 passageiros e oito tripulantes. [3]
14 de Agosto de 2005 - Helios Airways, Vôo 522, um 737-300 caiu após despressurização da cabina e perda de consciência da tripulação, a norte de Atenas, Grécia, matando todos os 121 passageiros e tripulantes.
23 de Agosto de 2005 - TANS Peru, Voo 204, um 737-200 (ex-VASP) caiu durante uma tempestade na selva Peruana, matando 40 dos 92 passageiros e seis tripulantes. [4]
5 de Setembro de 2005 - Mandala Airlines, Vôo 091, um 737-200 caiu em Medan, Indonésia, matando 102 dos 117 passageiros e tripulantes, mais 47 pessoas no solo.
22 de Outubro de 2005 - Bellview Airlines, Vôo 210, um 737-200 caiu pouco depois da decolagem de Lagos, Nigéria, matando todos os 111 passageiros e seis tripulantes.
8 de Dezembro de 2005 - Southwest Airlines, Vôo 1248, um 737-700 deslizou para fora da pista durante um pouso sob nevasca no Aeroporto Midway, em Chicago, Illinois – EUA, matando uma criança num automóvel que passava em via próxima.
29 de Setembro de 2006 - Gol Transportes Aéreos, Vôo 1907, um 737-800 da empresa brasileira com 154 ocupantes caiu após uma colisão com um Embraer Legacy. Todos a bordo do 737 morreram. O Legacy conseguiu pousar em segurança na Base de Cachimbo da Força Aérea Brasileira, no sul do Pará - Brasil.
29 de Outubro de 2006 - ADC Airlines, Vôo 53, um 737-200 caiu durante uma tempestade após decolar de Abuja, Nigéria. Apenas sete ocupantes sobreviveram dentre os 104 passageiros e tripulantes.
Aeroporto não tem controlador de tráfego
O aeroporto de Mbanza Congo é um dos 17 no país que carece do serviço de controlo de tráfego aéreo. Nesses aeródromos, o que se presta é um auxílio aos pilotos, o chamado “serviço de informação de tráfego de aeródromo”, de acordo com o presidente da Associação dos Controladores de Tráfego Aéreo, Francisco Almeida de Carvalho.
Em entrevista ao Jornal de Angola, publicada no Dossier “Navegação Aérea”, no passado dia 17, o responsável disse que, em Angola, apenas os aeroportos de Luanda e Cabinda estão contemplados com o serviço de controladores de tráfego aéreo e que apenas 70 dos 120 desses profissionais estão no activo, a maior parte deles na capital do país.
Existem, entretanto, controladores no Bengo, em Benguela, no Lubango e no Huambo, formados e transferidos pela Empresa Nacional de Navegação Aérea (ENANA) para os aeródromos locais, porque se previa, na altura, a abertura dos serviços de controlo de tráfego aéreo naquelas províncias. Uma das razões para a fraca expansão do controlo de tráfego aéreo pelo resto do país, segundo o responsável, está ligada às políticas de dimensionamento da própria ENANA, segundo as quais os controladores só podem prestar serviços a ela, considerada a única empresa vocacionada para o efeito.
O trabalho do controlador é orientar os aviões, evitando que colidam entre si ou contra obstáculos, quer no ar, quer nos aeroportos, garantir o escoamento seguro, ordenado e expedito do tráfego aéreo. É também sua função alertar os devidos organismos (bombeiros, polícia, guarda fronteiriça, etc.) para o caso de busca e salvamento, na eventualidade de uma aeronave se encontrar em situação de emergência.
Compainha proibida de voar em espaço aéreo europeu
A Comissão Europeia anunciou ontem a decisão de incluir a TAAG, Linhas Aéreas de Angola, na "lista negra" de companhias áreas impedidas de voar no espaço europeu.
Em comunicado, emitido antes do despenhamento de um Boeing da Taag na cidade do Soyo, província do Zaire, o executivo comunitário indica que o Comité de Segurança Aérea deu parecer favorável por unanimidade à quarta actualização da sua "lista negra", que, entre outras alterações, contempla uma interdição de voar em espaço aéreo à TAAG, empresa até agora com voos regulares para Lisboa.
Na sequência do parecer do Comité de Segurança Aérea, a proibição deverá entrar em vigor "nos próximos dias", aponta Bruxelas.
A "lista negra" da Comissão inclui cerca de uma centena de companhias aéreas, por não aplicarem as normas de segurança e constituírem um perigo para os passageiros.
A lista é elaborada com base em contribuições nacionais dos Estados membros, que comunicam a Bruxelas as companhias com problemas. Numa análise profunda por especialistas após contactos com as empresas visadas, a lista é revista periodicamente, sendo possível a uma companhia sair e entrar nela, consoante o cumprimento ou não das medidas de segurança.
A entrada da TAAG na "lista negra" da União Europeia para as companhias aéreas implica a suspensão de dez voos semanais da transportadora angolana para Lisboa, informou fonte do Instituto Português da Aviação Civil (INAC).
A mesma fonte adiantou à Lusa que a interdição da TAAG, anunciada pelo Comité de Segurança Aérea da Comissão Europeia, entra em vigor a partir do momento em que a decisão for publicada no jornal oficial das comunidades, o que deverá acontecer na próxima semana.
A TAAG opera seis voos semanais de ida e volta Luanda-Lisboa.
A companhia aérea angolana opera outros dois voos semanais de ida para Lisboa, com regresso a partir de Paris e de Londres.
De acordo com o INAC, serão também suspensas as duas ligações semanais à capital portuguesa que os aviões da TAAG operam em nome da transportadora oficial são-tomense, a STP Airways.