Bastidores revelam difícil relação entre Varig e Anac
Enviado: Seg Out 30, 2006 11:25
Mariana Mazza
Do Correio Braziliense
29/10/2006
14h45-A conturbada relação entre a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Varig ganhou novos contornos na última semana, envolvendo o retorno da ex-líder ao mercado em uma trama de pressões. O centro da disputa é a liberação do Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta), documento que dá à “nova Varig” o status de companhia aérea. Para tentar acelerar a emissão do certificado, a Varig foi levada pela Anac a abrir mão em uma outra briga: a dos horários de vôo (slots) que estão congelados em nome da empresa. São 65 janelas de pousos e decolagens nos principais aeroportos brasileiros que, no momento, poderão ser redistribuídas para companhias concorrentes como resultado dessa “negociação”.
Há pouco mais de um mês, a Varig comemorava o primeiro movimento da Anac em direção ao Cheta. Na noite do dia 25 de setembro, a reguladora anunciou que havia aprovado o funcionamento jurídico da VRG Linhas Aéreas S.A. — nome oficial da “nova Varig”. Mas o documento escondia uma armadilha contra a Varig. Em vez de listar os 207 slots comprados no leilão da companhia, realizado no dia 20 de julho, a Anac contabilizou apenas os 142 que estão sendo efetivamente usados pela companhia. Essa diferença fez com que a Varig entrasse com um pedido de reconsideração na reguladora, solicitando a correção do total de slots.
Em vez de negar o pedido de reconsideração, a Anac optou por um caminho mais fácil. Convenceu a própria Varig a retirar a solicitação. Assim, a agência não tornaria pública mais uma briga com a Varig e ainda colocaria um ponto final na disputa pelos slots. O recado teria sido claro para uma fonte próxima aos negociadores. “Ou retira o pedido ou pode esquecer o Cheta.”
Sinais da ameaça estão disponíveis no próprio site da reguladora. Ao registrar os acontecimentos sobre uma reunião na sede da Anac entre representantes do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) e diretores da agência, realizada no dia 19 de outubro, a assessoria da agência comprova a existência da solicitação e os efeitos que ela causaria se fosse mantida. “Caso o pedido de reconsideração — feito pela nova Varig — seja acolhido, o processo de homologação da empresa voltará ao ponto zero, já que autorização teria de ser cancelada.”
Perto do limite
Ao mesmo tempo em que o aviso era passado aos sindicalistas, uma outra reunião acontecia no Rio de Janeiro, entre os principais interessados no processo. Na mesa de negociações estavam o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, e o presidente do Conselho de Administração da VarigLog, Marco Antônio Audi, atual responsável pela Varig. Além de acertar a liberação dos documentos pendentes para a análise do Cheta, o recado de que o pedido de reconsideração poderia pôr tudo a perder foi colocado às claras. “Houve um pedido do Zuanazzi para retirar a solicitação”, assegura um dos envolvidos na negociação que preferiu não se identificar. “Depois do encontro com a Anac, os executivos fizeram uma reunião com os advogados e concluíram que, diante das circunstâncias, o melhor a fazer era retirar o pedido de reconsideração.”
Os acontecimentos foram confirmados por uma fonte que esteve em contato com o principal investidor da “nova Varig”, o chinês Lap Chan. Representante do fundo norte-americano Matlin Patterson, Chan é quem decide quanto tempo a Varig irá esperar pela emissão do certificado. A medida é feita em dólares, mais precisamente US$ 150 milhões. Este é o teto pré-definido de desembolsos que a Matlin estaria disposta a fazer durante o compasso de espera. Até agora US$ 145 milhões já teriam sido injetados na Varig e as perspectivas de liberação do Cheta continuam distantes. Os mais otimistas apostam que o processo demora mais 30 dias. “ Eles não estão vendo retorno. A idéia era chegar ao fim do ano com 50 aeronaves e, sem o certificado, esse meta está indo para o ralo”, conta a fonte.
Sem o Cheta, a Varig fica impedida de comprar novos aviões. As fabricantes e as empresas de leasing de aeronaves se recusam a negociar com a “velha Varig”, onde ficaram as dívidas da companhia. Os acordos fechados com outras aéreas para conseguir posições na fila de entregas da Embraer começam a ruir com a demora da Anac. A Air Canada, por exemplo, já teria desistido de repassar sua vaga para a Varig adquirir os três aviões listados em nome da empresa.
Do Correio Braziliense
29/10/2006
14h45-A conturbada relação entre a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Varig ganhou novos contornos na última semana, envolvendo o retorno da ex-líder ao mercado em uma trama de pressões. O centro da disputa é a liberação do Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta), documento que dá à “nova Varig” o status de companhia aérea. Para tentar acelerar a emissão do certificado, a Varig foi levada pela Anac a abrir mão em uma outra briga: a dos horários de vôo (slots) que estão congelados em nome da empresa. São 65 janelas de pousos e decolagens nos principais aeroportos brasileiros que, no momento, poderão ser redistribuídas para companhias concorrentes como resultado dessa “negociação”.
Há pouco mais de um mês, a Varig comemorava o primeiro movimento da Anac em direção ao Cheta. Na noite do dia 25 de setembro, a reguladora anunciou que havia aprovado o funcionamento jurídico da VRG Linhas Aéreas S.A. — nome oficial da “nova Varig”. Mas o documento escondia uma armadilha contra a Varig. Em vez de listar os 207 slots comprados no leilão da companhia, realizado no dia 20 de julho, a Anac contabilizou apenas os 142 que estão sendo efetivamente usados pela companhia. Essa diferença fez com que a Varig entrasse com um pedido de reconsideração na reguladora, solicitando a correção do total de slots.
Em vez de negar o pedido de reconsideração, a Anac optou por um caminho mais fácil. Convenceu a própria Varig a retirar a solicitação. Assim, a agência não tornaria pública mais uma briga com a Varig e ainda colocaria um ponto final na disputa pelos slots. O recado teria sido claro para uma fonte próxima aos negociadores. “Ou retira o pedido ou pode esquecer o Cheta.”
Sinais da ameaça estão disponíveis no próprio site da reguladora. Ao registrar os acontecimentos sobre uma reunião na sede da Anac entre representantes do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) e diretores da agência, realizada no dia 19 de outubro, a assessoria da agência comprova a existência da solicitação e os efeitos que ela causaria se fosse mantida. “Caso o pedido de reconsideração — feito pela nova Varig — seja acolhido, o processo de homologação da empresa voltará ao ponto zero, já que autorização teria de ser cancelada.”
Perto do limite
Ao mesmo tempo em que o aviso era passado aos sindicalistas, uma outra reunião acontecia no Rio de Janeiro, entre os principais interessados no processo. Na mesa de negociações estavam o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, e o presidente do Conselho de Administração da VarigLog, Marco Antônio Audi, atual responsável pela Varig. Além de acertar a liberação dos documentos pendentes para a análise do Cheta, o recado de que o pedido de reconsideração poderia pôr tudo a perder foi colocado às claras. “Houve um pedido do Zuanazzi para retirar a solicitação”, assegura um dos envolvidos na negociação que preferiu não se identificar. “Depois do encontro com a Anac, os executivos fizeram uma reunião com os advogados e concluíram que, diante das circunstâncias, o melhor a fazer era retirar o pedido de reconsideração.”
Os acontecimentos foram confirmados por uma fonte que esteve em contato com o principal investidor da “nova Varig”, o chinês Lap Chan. Representante do fundo norte-americano Matlin Patterson, Chan é quem decide quanto tempo a Varig irá esperar pela emissão do certificado. A medida é feita em dólares, mais precisamente US$ 150 milhões. Este é o teto pré-definido de desembolsos que a Matlin estaria disposta a fazer durante o compasso de espera. Até agora US$ 145 milhões já teriam sido injetados na Varig e as perspectivas de liberação do Cheta continuam distantes. Os mais otimistas apostam que o processo demora mais 30 dias. “ Eles não estão vendo retorno. A idéia era chegar ao fim do ano com 50 aeronaves e, sem o certificado, esse meta está indo para o ralo”, conta a fonte.
Sem o Cheta, a Varig fica impedida de comprar novos aviões. As fabricantes e as empresas de leasing de aeronaves se recusam a negociar com a “velha Varig”, onde ficaram as dívidas da companhia. Os acordos fechados com outras aéreas para conseguir posições na fila de entregas da Embraer começam a ruir com a demora da Anac. A Air Canada, por exemplo, já teria desistido de repassar sua vaga para a Varig adquirir os três aviões listados em nome da empresa.