Latam: É difícil dizer se vamos ou não fazer uma oferta pela Avianca
A Latam, segunda maior companhia aérea em voos domésticos no Brasil, com 29,84% de participação, monitora a evolução da Avianca Brasil, enquanto avalia se faz ou não uma oferta para comprar parte da concorrente.
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Essa proposta precisa ser aprovada pelos credores da Avianca Brasil em assembleia, marcada para 29 de março. Além da Azul, outras companhias poderão participar do leilão pela unidade, incluindo empresas que ainda não operam no Brasil.
“É difícil dizer hoje se vamos ou não fazer uma oferta por essa nova empresa. A divisão da empresa em duas, com a transferência de slots [direitos de pouso e decolagem em aeroportos], não é algo óbvio do ponto de vista regulatório. Existem incertezas jurídicas se esse plano será aprovado. Estamos monitorando dia a dia para ver a evolução desse assunto”, afirmou Jerome Cadier, presidente da Latam no Brasil.
Ramiro Alfonsín, vice-presidente financeiro da Latam, observou que o plano da Avianca Brasil contempla a venda de slots nos aeroportos mais relevantes em geração de receita. A companhia propõe a venda de 70 partes de slots, incluindo todos os slots nos aeroportos de Congonhas (SP) e Santos Dumont (Rio) e metade dos slots que possui no aeroporto de Guarulhos (SP).
“O que vemos por enquanto é que a empresa reduziu a oferta de voos no Brasil. Estimamos que a empresa continuará reduzindo a oferta de voos no futuro”, acrescentou Alfonsín.
O executivo disse ainda que é cedo para saber se a redução da Avianca Brasil terá impacto para a companhia, considerando que pode haver transferência de passageiros para companhias concorrentes.
A Latam estima implementar, até o fim deste ano, a joint venture com a American Airlines e as empresas da IAG, British Airways e Iberia, segundo Alfonsín.
A companhia já obteve aprovação para operar em conjunto com as companhias aéreas em quase todos os países. No fim do ano passado, o governo chileno aprovou os acordos, com medidas de mitigação.
A negociação com governos para aprovação da joint venture dura mais de três anos. De acordo com a Latam, dependendo das condições de mitigação impostas pelo Tribunal de Livre Concorrência do Chile, a empresa pode começar a operar conjuntamente a partir de um só país. O Brasil, maior mercado para a Latam, seria o primeiro país a operar com a joint venture.
Além disso, a empresa não espera receber novo aporte de capital estrangeiro na sua operação. Em fevereiro, o grupo chileno Latam anunciou a ampliação da participação na brasileira TAM (agora chamada Latam Airlines Brasil) de 48,99% para 51,04%.
A alteração societária já era prevista quando as empresas anunciaram sua fusão e notificaram o caso ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo as empresas, o memorando de entendimentos firmado em 2010 já previa a possibilidade de conversão de ações em ordinárias caso a legislação brasileira permitisse.
Em dezembro de 2018, o ex-presidente Michel Temer assinou medida provisória que pôs fim ao limite de participação estrangeira no capital das companhias aéreas.
“Não vejo nenhuma movimentação grande daqui em diante sobre entrada de capital estrangeiro. A medida provisória vai ajudar principalmente as empresas que precisam de capital. A Latam não precisa de captar recursos”, afirmou Cadier.
Crise com a Boeing
A crise da Boeing, gerada a partir de dois acidentes fatais com o avião 737 Max 8, que levaram dezenas de países a suspenderem voos com esse modelo de aeronave, é ruim para todas as companhias de aviação, avaliou Cadier.
No Brasil, a rival Gol é a única companhia que usa esse modelo de avião. Na segunda-feira, a companhia suspendeu temporariamente o uso dos 7 aviões desse tipo.
“O caso da Boeing é ruim para todos, porque gera um nível de incerteza para todo o setor de aviação”, afirmou Cadier. O executivo considerou difícil avaliar possíveis impactos do caso para a própria Boeing e para as companhias aéreas que usam a aeronave.
A empresa pretende investir aproximadamente US$ 400 milhões na reconfiguração interna de 135 aviões da sua frota, entre 2019 e 2020. Só no Brasil, o investimento nessas reformas deve chegar a US$ 200 milhões.
A remodelação será feita no centro de manutenção da Latam em São Carlos (SP). A unidade recebeu investimento de R$ 22 milhões no ano passado para ampliar sua estrutura.
“A companhia manteve inalterado o plano de investimentos. Se houver alguma mudança importante no mercado internacional de aviação, é possível que a companhia reavalie o plano de investimentos nos próximos meses”, afirmou Cadier.
Além disso, a companhia prevê investir US$ 1,9 bilhão entre 2019 e 2020 para aquisição de mais aviões, ampliando a frota de 318 unidades para 329. Em 2019, os investimentos serão de US$ 1,2 bilhão, quase quatro vezes mais que o investimento de US$ 311 milhões feito no ano passado.
A Latam também anunciou investimento de US$ 300 milhões na subsidiária da Colômbia, para dobrar a operação no país vizinho nos próximos três anos. A Colômbia é o segundo maior mercado para a Latam na América do Sul, atrás do Brasil.
Cautela no cenário internacional
Após fechar 2018 com o melhor resultado desde a fusão da LAN com a TAM em 2012, a Latam também informou que vê com cautela o cenário para 2019, considerando principalmente o mercado internacional de aviação e a crise da Argentina.
“O mercado internacional ainda apresenta uma oferta excessiva de voos e existem dúvidas de como as companhias aéreas vão se comportar em relação a isso”, afirmou Cadier. O executivo também disse que a companhia olha com preocupação os impactos da a crise financeira na Argentina sobre o mercado de aviação.
“Já em outros mercados a perspectiva é positiva. O Brasil vem apresentando um bom desempenho no mercado doméstico nos primeiros meses de 2019”, afirmou Cadier. O executivo disse que a companhia também espera crescimento nos mercados domésticos do Chile, do Peru e da Colômbia em 2019.
A Latam registrou em 2018 lucro líquido de US$ 182 milhões, alta de 17,1% em relação a 2017. A receita aumentou 2%, para US$ 10,3 bilhões. Às 11h38, as ações da companhia subiam 3,75% na bolsa do Chile, para 7.890 pesos chilenos. Na bolsa de Nova York, o American Depositary Receipt (ADR) subia 6,02%, para US$ 11,98.
A Latam também prevê desembolsar em torno de US$ 300 milhões para fechar o capital da Multiplus. No dia 1º de abril, a Multiplus, empresa de programas de fidelidade controlada pela aérea, realiza a oferta pública de ações (OPA) para que a Latam possa adquirir os 27,3% das ações que ainda não detém.
O preço oferecido será de R$ 26,84, que corresponde ao preço de R$ 27,22 anunciado pela companhia anteriormente, ajustado após a distribuição de dividendos. Às 11h44, as ações da Muliplus eram negociadas na B3 a R$ 26,63, em alta de 0,11%. O Ibovespa subia 0,08%, para 97.906 pontos.
Fonte:
https://www.valor.com.br/empresas/61586 ... la-avianca